Introdução: A dieta cetogênica (DC) é um tratamento adjuvante das epilepsias refratárias aos fármacos antiepilépticos com eficácia clínica comprovada. Apesar de seus benefícios clínicos, ela promove diversos efeitos adversos associados a maior inflamação e estresse oxidativo, possivelmente por meio da modulação negativa do regulador antioxidante master Nrf2. Objetivo: Avaliar o impacto da qualidade dos ácidos graxos presentes na DC sobre a concentração de Nrf2 em pacientes com epilepsia refratária. Método: Trata-se de um ensaio clínico controlado, aberto e não paralelo realizado com 53 pacientes pediátricos diagnosticados com epilepsia refratária e indicação para tratamento com DC acompanhados no Instituto da Criança (ICr/FMUSP) em 3 momentos: basal, após 3 meses de DC e após 6 meses de DC. Os pacientes foram estratificados em: DC Clássica (DCC) – rica em gorduras saturadas e DC Modificada (DCM) - rica em gorduras mono e poli-insaturadas. Após ampla caracterização clínica dos pacientes e coleta de sangue após jejum de 12h foram analisados o colesterol total e o estresse oxidativo (TBARS) e antioxidante (Nrf2). Resultados: Os grupos apresentaram médias de idade de: DCC (n=26; 6,5±4,3 anos) e DCM (n=27; 5,2±3,4 anos). Ambas as DCs promoveram controle eficaz das crises convulsivas, reduzindo em mais de 50% a ocorrência das crises. A DCC induziu dislipidemia associada à maior elevação do colesterol total (Tfinal=229±81 mg/dL), em relação à DCM (Tfinal=186±60 mg/dL), após 6 meses de tratamento (p=0,047). Não houve diferença na quantidade de TBARS entre os grupos em nenhum dos tempos analisados. A concentração de Nrf2 no grupo DCC apresentou redução significativa ao longo do tempo, variando de 2,59±0,67ng/mL no início do experimento, para 2,03±0,64ng/mL após 6 meses de tratamento (p=0,020). No mesmo período pode-se verificar um perfil oposto no grupo DCM, no qual o valor variou positivamente de 1,56±0,37ng/mL para 2,0±1,05ng/mL (p=0,038). Conclusão: A DCC modula negativamente o Nrf2 e a dislipidemia em crianças e adolescentes com epilepsia refratária, sugerindo menor proteção antioxidante e maior risco cardiovascular neste grupo de pacientes.