Introdução
A intervenção cirúrgica em pacientes com valvopatia, devido à calcificação grave do anel mitral (MAC), tem um risco de mortalidade significativo. Assim, a substituição da válvula mitral transcatéter por uma prótese surgiu como uma alternativa para aqueles pacientes com estenose mitral grave e calcificação maciça do anel que são considerados de alto risco ou inelegíveis para a cirurgia convencional, apesar dos desafios circunscritos à técnica. Nesse sentido, relatamos implante percutâneo bem-sucedido pela técnica Valv-in-valv (ViMAC) da válvula mitral nativa em paciente não elegível à cirurgia.
Relato de caso
Paciente, sexo masculino, 72 anos de idade com história de dispneia recorrente e progressiva, evoluiu com edema agudo de pulmão com necessidade de internação na UTI para compensação clínica. Como antecedentes pessoais apresenta: hipertensão arterial, Diabetes Mellitus em uso de insulina, retinopatia, neuropatia e nefropatia diabéticas, insuficiência renal crônica não-dialítica. Em 2019 foi submetido à uma TAVR para o tratamento de estenose aórtica e hipertensão pulmonar graves. Em 2020, realizou angioTC que diagnosticou estenose mitral com calcificação maciça do anel (score de MAC = 8). O ecocardiograma revelou uma valva mitral fortemente calcificada (figura) com estenose grave. A TC mostrou uma área NeoLVOT estimada de 1,76 cm2 com obstrução da via de saída do ventrículo esquerdo. Em 2021, o paciente foi atendido no pronto socorro com síncope, ICC CF III/IV, hemoglobina 5,5 g/dL, creatinina 2,0 mg/dL, descompensação da DM, leucocitose, STS Score 15. O HEART team determinou que o paciente não era um candidato à cirurgia para a substituição da valva mitral, devido ao alto risco secundário às comorbidades. Após consideração cuidadosa das opções terapêuticas e consentimento dos familiares, optou-se pelo implante da válvula Edwards Sapiens 3 (29 mm) por via transseptal na posição mitral. O procedimento foi realizado com sucesso, utilizando anestesia geral e ecocardiograma transesofágico(ETE)3D. Este confirmou a posição correta da válvula com apenas uma regurgitação mitral paravalvular trivial. O paciente evoluiu com estabilidade hemodinâmica, sem necessidade de diálise, com reclassificação da ICC CF II e teve alta do hospital 12 dias depois.
Conclusão
O ViMAC percutâneo da válvula mitral nativa é viável em pacientes com estenose da válvula e calcificação maciça do anel, considerados de alto risco ou inelegíveis para a cirurgia. Para tanto, o planejamento do procedimento deve incluir a estimativa NeoLVOT após a tomografia cardíaca.